O Que São Virtudes?

Virtude da Prudência – Gaetano Susali – Veneza Foto por Wolfgang Moroder

Olá,

Que bom que você está aqui.

Um tópico que me interessa bastante e pretendo explorar aqui no blog ao longo do tempo é o cultivo à virtudes. Mas antes de entrar no detalhamento a fundo de cada uma das virtudes do ser humano, achei por bem primeiro escrever este artigo base apresentando o significado de virtude e quais os seus tipos.

Então vamos lá!

As virtudes são a nossa essência como seres humanos. São os elementos do nosso espírito. O conteúdo do nosso caráter. Cultivá-las é parte central da nossa evolução como pessoa.

Segundo o dicionário de filosofia, virtude é o termo que designa uma capacidade qualquer ou excelência.[1]

Para Aristóteles, a definição de virtude é de “hábitos dignos de louvor”. É uma disposição para a prática do bem que se adquire com o hábito.[2]

Em outras palavras, podemos dizer que virtudes são os hábitos que levam à excelência humana.

Alguns exemplos de virtudes do homem são a coragem, integridade, determinação, disciplina, honestidade, respeito, justiça, lealdade, tolerância, paciência, otimismo, bondade, perdão, alegria, gratidão, humildade, empatia, compaixão, amizade entre outras.

O contrário de virtude é vício.

Por exemplo, a paciência é uma virtude humana. Ira é o vício que se opõe à paciência. Generosidade é uma virtude. Egoísmo é o vício que se opõe à generosidade.

Não existe uma lista única e universal que apresente todas as virtudes. Diferentes listas foram geradas ao longo do tempo.

As virtudes humanas são interesse de 3 grandes áreas: filosofia, religião e psicologia.

Virtudes na Filosofia

A origem da palavra virtude vem da Grécia Antiga com o termo aretê, que significa excelência.

Platão, no livro IV da República, definiu quatro virtudes de uma pessoa: temperança, prudência(sabedoria), fortaleza (força, coragem) e justiça. Essas virtudes vieram a ficar conhecidas como as virtudes cardeais. Também conhecidas como virtudes cardinais ou virtudes humanas por representarem as virtudes centrais do ser humano.[3]

Aristóteles, aluno de Platão, definiu uma lista maior e dividiu-a em dois tipos de virtudes: morais e intelectuais. As virtudes morais dizem respeito ao caráter e as intelectuais à sabedoria. [2]

“…porquanto dizemos que algumas virtudes são intelectuais e outras morais; entre as primeiras temos a sabedoria filosófica, a compreensão, a sabedoria prática; e entre as segundas, por exemplo, a liberalidade e a temperança. Com efeito, ao falar do caráter de um homem não dizemos que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-nos ao hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtudes.”
Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro 1

Na filosofia contemporânea, as virtudes morais são estudadas por uma linha chamada “Ética das virtudes” e as virtudes intelectuais são estudadas por outra linha chamada “Epistemologia da Virtude”.

Vêm da obra de Aristóteles o famoso dizer de que “a virtude está no meio”. Essa é uma contribuição central de sua obra que apresenta a virtude como o meio termo entre o excesso e a falta. Por exemplo, a coragem é o meio termo entre a covardia e a temeridade (excesso de ousadia). O centro (coragem) é considerado a virtude e os extremos (covardia e temeridade) são considerados vícios. Como mostra em sua obra, a mesma regra se aplica a muitas outras virtudes, embora não à todas.[2]

“A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta;”
Aristóteles, Ética a Nicômaco

Virtudes na Religião

Tempos depois, a Igreja Católica definiu três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. À essas foram adicionadas as quatro virtudes cardeais de Platão (temperança, prudência, fortaleza e justiça) para formar as sete virtudes cristãs. [4]

A própria Bíblia apresenta as virtudes utilizando a denominação frutos do espírito: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.” Gálatas 5:22,23.

Outras religiões como budismo, hinduísmo, judaísmo, islamismo e taoísmo também têm sua própria lista de virtudes [5]. Muitas delas coincidindo entre todas as religiões.

Virtudes na Psicologia

Por fim, mais recentemente um ramo da Psicologia denominado Psicologia Positiva adotou o conceito de virtude para descrever o caráter de uma pessoa.

Na sua obra, os pais da Psicologia Positiva, Martin Seligman e Christopher Peterson descrevem 24 forças de caráter agrupadas em 6 virtudes principais: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência. [6]

Outras fontes relevantes

Uma lista de virtudes que ficou muito popular na época medieval é a lista do poema épico Psicomaquia de Prudêncio. É uma lista de sete virtudes que surgem para combater os famosos sete pecados capitais que se popularizaram no poema. [4]

Sete Virtudes Sete Pecados Capitais
Castidade Luxúria
Caridade Avareza
Temperança Gula
Diligência Preguiça
Paciência Ira
Bondade Inveja
Humildade Vaidade

 
Os romanos também criaram sua lista. Essa contendo 19 virtudes de um homem. [5]

Benjamin Franklin, ilustre figura da história norte-americana, tinha uma famosa lista de 13 virtudes que ele buscou cultivar ao longo da vida: temperança, silêncio, ordem, resolução, frugalidade, indústria, sinceridade, justiça, moderação, limpeza, tranquilidade, castidade e humildade. [5]

Mais recentemente dois autores popularizaram obras sobre virtudes.

William Bennett, ex-secretário de Estado Norte-Americano, escreveu a obra denominada O livro das virtudes onde aborda contos sobre algumas das principais virtudes.

Ainda temos Linda Popov, idealizadora do chamado Virtues Project que tem uma definição de virtudes que gosto muito [7]:

“Love. Kindness. Justice. Service. Virtues are the very meaning and purpose of our lives, the content of our character and the truest expression of our souls. For people of all cultures, ethnicities and beliefs, they are the essence of authentic success. Virtue means power, strength, inner quality. Virtues are the content of our character, the elements of the human spirit. They grow stronger whenever we use them. As a six year old once said, “Virtues are what’s good about us.”

Tradução própria:
“Amor. Gentileza. Justiça. Serviço. As virtudes são o verdadeiro significado e propósito das nossas vidas, o conteúdo do nosso caráter e a verdadeira expressão da nossa alma. Para pessoas de todas as culturas, etnias e credos, elas são a essência do autêntico sucesso. Virtude significa poder, força e qualidade interior. As virtudes são o conteúdo do nosso caráter, os elementos do nosso espírito. Elas crescem mais fortes quando nós as utilizamos. Como disse uma criança de seis anos de idade certa vez: ‘As virtudes são o que existe de bom em nós.’” .

Em seu website Linda apresenta uma lista de mais de 100 virtudes.

Enfim, o quê significa virtude?

Agora que já temos diferentes perspectivas a respeito do tema vou condensar tudo numa interpretação única e simplificada para facilitar o entendimento do significado da palavra virtude.

Para mim, virtudes são as qualidades do ser humano. Essa é a minha definição pessoal. Simples e objetiva. Qualidades que levam à excelência humana. Não apenas qualidades morais, mas também as qualidades intelectuais como colocou Aristóteles.

Claro, muitas dessas qualidades (virtudes) estão diretamente ligadas à excelência de caráter. Alguns exemplos de virtudes morais são a honestidade, lealdade, respeito, justiça e a prática do bem. Nesse sentido, alguém desonesto, injusto e desleal é uma pessoa de mau caráter.

Porém, algumas outras não.

Por exemplo, foco. A habilidade de uma pessoa manter o foco nas atividades que desempenha também entendo como sendo uma virtude. Por outro lado, não podemos dizer que falta de foco significa falta de caráter.

A própria inteligência é uma virtude intelectual, mas não uma virtude moral. Não podemos chamar de mau caráter alguém de pouca inteligência. Capacidade de raciocínio lógico e de diálogo são outras virtudes que podemos colocar nessa categoria.

Enfim, as virtudes, em especial as virtudes morais que são as responsáveis pela formação do nosso caráter é o que realmente nos leva a felicidade, muito mais do que bens materiais por exemplo.

Como já falei aqui, a virtude da gratidão é uma das minhas receitas de felicidade. E como se pode ver, muitas são as listas de virtudes. Não existe um consenso de uma lista única e universal.

O mais importante aqui é realmente entender o conceito, escolher as mais relevantes para a sua vida e procurar praticá-las. Cultivar virtudes é cultivar a excelência humana. É cultivar o que têm de bom em nós.

[1] Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano. Martins Fontes, São Paulo, 2007.
[2] Ética a Nicômaco, Aristóteles. Ed. Martin Claret.
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Virtudes_cardinais
[4] https://en.wikipedia.org/wiki/Seven_virtues
[5] https://en.wikipedia.org/wiki/Virtue
[6] Character Strengths and Virtues: A Handbook and Classification. Martin Seligman, Christopher Peterson, 1st Edition.
[7] https://www.virtuesproject.com/virtues.html

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